O que é Síndrome de Burnout?
- nathaliaarrcarvalh
- 7 de out. de 2024
- 6 min de leitura
Atualizado: 4 de fev.

O que é a Síndrome de Burnout?
Síndrome de Burnout é uma condição prolongada de estresse, caracterizada pela tríade de exaustão emocional, despersonalização e baixa realização profissional. Ela é comumente acompanhada de depressão, ansiedade e doenças psicofisiológicas.
Ela representa um problema social devido a atual configuração do mundo do trabalho: alta competitividade, natureza variável dos contratos de trabalho, instabilidade no mercado de trabalho, demandas de horas de trabalho excessivas, necessidade de aprimoramento contínuo diante do acelerado ritmo de mudanças nas tecnologias e desfocagem da linha que separa o trabalho e a vida pessoal/familiar.
A Síndrome de Burnout é constituída por três dimensões:
1- Exaustão emocional: Caracterizada pela falta de energia, desmotivação, ausência de entusiasmo, cansaço, fadiga, sentimento de esgotamento dos recursos físicos e emocionais para trabalhar. Há a sensação de não se dispor de nenhuma dose de energia para fazer o que precisa ser feito no trabalho.
2- Despersonalização ou desumanização: Caracteriza-se por atitudes desumanizadas e até mesmo irônicas e cínicas para com as outras pessoas. O profissional desenvolve insensibilidade emocional e passa a tratar os clientes, pacientes e colegas com hostilidade.
3- Baixa realização profissional: Tendência a se autoavaliar de forma negativa. O profissional se sente insatisfeito com o resultado de seu trabalho, pensa que é incompetente e que não é capaz de obter êxito na sua carreira. Ocorre quando o idealismo, interesse e motivação do início do trabalho dão lugar ao sentimento de frustração e insatisfação pessoal.
Quais as condições de trabalho mais relacionadas à Síndrome de Burnout?
Excesso de demandas de trabalho;
Lidar com clientes gravemente doentes (p. ex., pacientes suicidas ou com demência) ou com muitas queixas, que solicitam excessivamente o profissional;
Lidar com colegas de trabalho muito críticos, competitivos ou preguiçosos;
Contato com sofrimento ou morte;
Senso de responsabilidade sobre a vida de outras pessoas;
Ausência de previsibilidade ou falta de controle no ambiente de trabalho;
Conflitos éticos nas exigências do trabalho;
Falta de metas bem definidas, levando a pessoa sentir que o trabalho nunca tem fim;
Assédio;
Falta de autonomia para tomar decisões sobre seu trabalho;
Falta de perspectiva de crescimento na carreira;
Formação profissional inadequada;
Ausência de segurança (p. ex., risco de morte experimentados por bombeiros ou policiais, professores ameaçados por alunos agressivos ou traficantes que circulam pelas escolas).
Quais as características comuns das pessoas que sofrem de Burnout?
Altos níveis de perfeccionismo, competitividade e autocobrança;
Envolver-se de forma exagerada com o trabalho;
Necessidade de prestígio profissional a todo custo a fim de ter um status social ou econômico alto;
Possuir menor experiência para executar sua função;
Baixa tolerância às frustrações;
Poucas habilidades de comunicação e resolução de conflitos;
Necessidade excessiva de controle;
Baixa assertividade.
Estresse e Burnout são a mesma coisa?
Nem todo estresse decorrente do ambiente de trabalho é Burnout. A Síndrome de Burnout é compreendida pela área de saúde como uma espécie de estresse crônico de maior gravidade, idiossincrático ao contexto de trabalho - ocorrendo pela exposição a estressores laborais, ao contrário de outros estressores que ocorrem em outros ambientes.
Doenças e sintomas decorrentes do Burnout:
1- Fisiológicos:
Dor de cabeça
Alterações do sono
Dores musculares
Problemas estomacais e intestinais
Problemas cardíacos
Disfunções sexuais
Alterações respiratórias e imunológicas
2- Emocionais:
Distanciamento emocional
Sentimento de solidão, alienação e impotência
Ansiedade
Irritabilidade
Baixa autoestima
Insatisfação com o emprego
Dificuldade de concentração
Distorção da autoeficácia
Hostilidade
Apatia
Desconfiança
3- Comportamentais:
Absenteísmo
Queda de produtividade
Baixo comprometimento com o trabalho
Abandono de emprego
Conflitos com colegas de trabalho e demais pessoas do convívio
Isolamento
Abuso de álcool e drogas
Comportamentos de risco
Agressividade
Burnout em profissionais do esporte:
Nota-se que os avanços científicos na área da medicina esportiva têm evoluído bastante. Quanto mais o esporte se desenvolve, maiores são as exigências em relação aos atletas e aos treinadores. A superação é um dos principais valores morais no esporte. Conhecer seus limites para superá-los é uma constante na vida de atletas de alto desempenho.
A exposição midiática é a norma no mundo globalizado, fazendo com que o desempenho dos atletas fique amplamente divulgado. Nesse contexto, os recursos pessoais do profissional do esporte para o enfrentamento das demandas são primordiais no processo de saúde e adoecimento. Enquanto para alguns o ambiente competitivo, no qual a performance é constantemente avaliada, é algo estimulante e desafiador, para outros é patológico.
O Burnout é uma consequência possível nesse ambiente que exige treinamento excessivo, habilidades complexas no manejo de emoções (que são diversas e intensas), treinamento excessivo, exposição, avaliação constante do desempenho e capacidade de manter-se motivado.
Burnout em policiais militares:
Os policiais estão entre os profissionais que mais sofrem estresse, pois são constantemente expostos ao perigo e à agressão. O fazer do policial envolve condições de trabalho que acarretam sobrecarga física e emocional, além das pressões da sociedade por eficiência, que podem afetar a saúde, gerar desgastes, insatisfação e estresse.
A função do policial implica constante estado de alerta, mesmo nas horas de lazer. Muitas vezes é necessária a supressão de emoções para que se realize as funções do trabalho, lidando com situações que não raramente exigem solução imediata. Além disso, esses profissionais têm que lidar com um ambiente de trabalho cuja hierarquia é rígida e cheio de burocracias. O desequilíbrio entre recursos oferecidos ao policial e exigências da própria profissão pode propiciar um estado de estresse crônico e adoecimento físico e mental.
Burnout em médicos e outros profissionais de saúde:
O trabalho na saúde está associado a altos níveis de estresse. Algumas características pessoais desses profissionais podem favorecer o adoecimento, tais como perfeccionismo, autocobrança excessiva, falta de preparo técnico para a função desempenhada, pouca experiência profissional, dificuldade para lidar com o sofrimento de pacientes, dificuldade nas habilidades de comunicação, excesso de trabalho, ausência de lazer e falta de propósito no serviço realizado.
As características ambientais que favorecem o Burnout nos médicos são: baixa remuneração, altas expectativas/cobranças criadas por chefes e pacientes, pouca autonomia para tomar decisões sobre seu trabalho, falta de oportunidade para crescer na instituição, exposição a violência e traumas, privação de sono, estrutura física precária para a realização de atendimentos aos pacientes e assédio moral.
Burnout em professores:
Embora a área da educação seja prioritária para o desenvolvimento de uma nação, no Brasil esse setor convive com dificuldades endêmicas e condições de penúria histórica. O Burnout surge, neste contexto, como forma de manejar um processo de estresse ocupacional que se cronificou ao longo dos anos. Os profissionais mais predispostas ao adoecimento são os mais idealistas, altamente motivados, perfeccionistas e que não medem esforços para atingirem seus objetivos, mesmo quando as condições de trabalho não são favoráveis.
O trabalho de docente, que era considerado nobre, passou a ser considerado um produto, uma mercadoria oferecida por empresas da educação. O professor, desqualificado socialmente e mal remunerado, tem sua autoestima abalada. O ambiente escolar costuma gerar alta pressão para resultados, com elevada exigência e responsabilidade sob os professores, atreladas à reduzida autonomia para tomada de decisão.
A escola deve observar o ambiente físico, levando em consideração a ergonomia, iluminação, circulação de ar, materiais disponíveis, locais apropriados e a segurança dos funcionários. As relações interpessoais também são determinantes para o adoecimento ou não dos professores, dando-se destaque à importância do suporte oferecido pelos colegas, pela direção, bem como dos pais dos alunos.
Quanto às recomendações individuais, cabe ao profissional cultivar hábitos saudáveis de vida, tais como: alimentação saudável, sono reparador, manutenção de tempo livre aos finais de semana, férias regulares, realização de atividade física, preservação de hobbies, usufruir momentos de prazer com a família e os amigos. Caso os sintomas permaneçam, é essencial procurar um profissional com conhecimento sobre a síndrome.
Burnout acadêmico em estudantes de pós-graduação:
Parte-se do princípio de que o âmbito acadêmico, permeado por toda sua demanda de excelência, imposição de tarefas, prazos exíguos para o cumprimento de atividades, relações assimétricas/hierárquicas e pressão por resultados, carrega demandas que, analogicamente assemelham-se àquelas das relações do ambiente de trabalho. É razoavelmente difundida a ideia de que a pós-graduação stricto senso consiste em um prolongamento do mercado de trabalho.
A literatura científica aponta que estudantes de mestrado e doutorado consistem um grupo de risco para o Burnout. Além do sentimento de estar exaurido pelas demandas acadêmicas, não é incomum o sentimento de incompetência para a realização das demandas universitárias e a evolução para um desapego às exigências e para o distanciamento afetivo com os pares. Ademais, relacionamento ruim entre orientador e aluno, orientador abusivo, insatisfação com o tema de pesquisa, demanda de excelência, pressão excessiva e alta exigência por produtividade contribuem para o sofrimento do aluno.
Referências Bibliográficas:
1- Melo, L. P. & Carlotto, M. S. (2016). Prevalência e preditores de burnout em bombeiros. Psicologia: Ciência e Profissão. 36 (3), 668-681.
2- Benevides-Pereira, A. (2001). Asaúde mental de profissionais de saúde mental: Uma investigação da personalidade de psicólogos. Maringá: Eduem.
3- Samulski, D., Menzel, H. J., & Prado, L. S. (2013). Treinamento esportivo. Barueri: Manole.
コメント